9 de mai. de 2010

O Texto do Trem

A idéia de passar uma semana fora de casa não me agradou à primeira vista, afinal eu perderia a oportunidade de ir ao Mineirão para assistir ao jogo decisivo do campeonato mineiro. Cheguei a Belo Horizonte sábado e no domingo iria para um treinamento, num Hotel Fazenda. Como se não bastasse, também não poderia assistir toda a partida pela TV, pois teria que pegar um ônibus às 17 horas. Acordei cedo e liguei o rádio para ouvir a “Hora do Coroa” programa dominical apresentado por Acir Antão, na Itatiaia. Num dos intervalos do programa ouvi que no fim de semana próximo haveria um festival de teatro em BH e que o Tom Zé se apresentaria. Pronto. Era disso que eu precisava para compensar o desgosto de não ir ao estádio.
A semana que passei no Hotel Fazenda foi tranquila e sem nenhum evento que mereça destaque. Regressei a BH na sexta à tarde, mas só cheguei à noite – coisas do excelente trânsito da metrópole - com a expectativa de que domingo chegasse logo.
Acordei às 9 horas do grande dia chegou e a tarde fui com uma tia ao BH Shopping comprar presentes para nossas mães e minha avó. Na volta fomos surpreendidos por um fato pra lá de inusitado: estávamos esperando o ônibus 9250 para voltarmos a nossa casa. Por pouco não perdemos o ônibus. Quando subíamos os degraus que dá acesso ao interior do veículo percebemos um sujeito - magro, alto, de pele morena, cabelo liso preso por uma espécie de tiara bastante larga, blusa social entreaberta, calça social e chinelo de dedo, além de um aspecto de sujeira e mau cheiro- tentando se comunicar com o motorista do ônibus mostrando um passaporte de cor vinho. Ele estava falando em inglês o motorista que nada entendeu, fez apenas o sinal de que ele poderia entrar. Minha tia que domina o idioma britânico - além de compreender e escrever em Francês, Italiano, Espanhol e Latim - ficou ressabiada, mas rapidamente iniciou um diálogo com o coitado. Eu, que ainda estou aprendendo português, prestei bastante atenção no diálogo e só compreendi uma expressão da minha tia: “This is a crazy!”. Poucos minutos depois o homem foi orientado por ela a descer num ponto que fica próximo a Rede Minas e lá procurar ajuda – idéia da trocadora. Depois que ele desceu, eu pedi a tia Bartira que me explicasse a história. Ela me contou que o cara é Austríaco e veio ao Brasil para conhecer as cidades históricas daqui, então entrou em contato com uma pessoa que mora na capital e, juntamente com um amigo também Austríaco, veio para o Brasil desembarcando no Rio de Janeiro. O amigo ficou no Rio e ele veio a BH sozinho. Nesse trajeto foi assaltado e perdeu tudo, mas não soube explicar ao certo como veio do Rio para Belo Horizonte e nem onde foi assaltado – se reservou ao direito de fazer um sinal apontando o polegar para trás, eterno sinal de carona -, o certo é que ele procurava a embaixada da Áustria - que ninguém dentro do ônibus sabia onde era e nem se existe BH – para pedir ajuda pois já estava há três dias perdido nas ruas da capital e o seu vôo de volta para seu país sairia no domingo.
Refeitos do susto eu e minha tia viemos conversando no restante do trajeto sobre: a veracidade da história, as mazelas que ele deve ter sofrido, os métodos usados para chegar a BH, e apenas duas certezas: a primeira de que ele é realmente europeu pela cor do passaporte – afastando a possibilidade de que aquilo tudo fosse algum teatro de mau gosto - e a segunda, que eu cheguei à conclusão depois de refletir um pouco sobre o assunto, de que ele foi vítima de xenofobia: atitude tão temida por incontáveis imigrantes que vão tentar a sorte de uma vida melhor na Europa ou nos Estados Unidos da América e condenada por todo o mundo. O povo brasileiro que tem a característica hospitaleira e acolhedora me decepcionou. Isso porque ele disse que em vários momentos tentou pedir ajuda às pessoas na rua, mas elas o ignoravam ou simples riam da cara dele achando que se tratava de alguma piada o fato dele não falar português tentar se comunicar em inglês, que é o segundo idioma mais falado em seu país de origem.
Sobre o show do Tom eu falo num outro post, este ficou muito extenso.

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