19 de fev. de 2010

E então choveu. A chuva caia com a raiva de quem foi impedida, pelo império solar, de beijar o solo por meses. Os pingos desciam das nuvens com tanta velocidade que formavam um ângulo reto com o solo, coisa jamais vista antes, e batiam no chão com muita violência numa tentativa de abrir buracos - no chão, nos telhados e em tudo que estava à sua frente - para se vingar do impedimento. Não se ouviu um só raio rasgando o céu.
As mulheres, maravilhadas com a grande novidade, saíram de suas casas e espalharam pelas ruas bacias, baldes, panelas, enfim, tudo que pudesse armazenar qualquer pouco de água e depois correram para dentro de casa e agradeceram a todos os santos que tinham sobre o oratório, até os santos que não tinham muito a ver com o assunto receberam agradecimento. As crianças brincavam e pulavam nas poças d’água. Os homens, emocionados, só conseguiam chorar. Mas quando cruzavam com um amigo disfarçavam, apesar de todos da vila saberem do fato inusitado, pois as mulheres comentaram umas com as outras. E as esposas contavam para os maridos numa tentativa de diminuir a vergonha do choro incontido.
Após uma semana ininterrupta de chuvas todos os reservatórios de água, imagináveis ou não, estavam cheios de água, os lagos estavam repletos de peixes e até uma moréia foi pescada.
Mas a chuva não parava. Quando ia diminuindo o volume diário e parecia que ia cessar, no dia seguinte aumentava de novo. E o povo que antes estava desesperado por uma gota d’água agora pedia que o sol imperasse novamente.

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