17 de dez. de 2009

Francisco estava na Avenida dos Andradas, andando sobre a calçada, ao lado do Parque Municipal. Apesar da pouca idade adquiriu a calma de um ancião e firmeza de um jovem no andar, características que a solidão lhe deu de presente. Procurava alguém que lhe emprestasse um isqueiro ou um fósforo para acender um cigarro, ergueu a cabeça, e avistou uma moça com um cigarro entre os dedos. Ela andava na mesma direção dele, se afastava, e entrou na próxima portaria do parque. Francisco apressou o passo. Quando a alcançou tocou-a com a mão esquerda, ela se virou, se olharam, houve silêncio por alguns segundos, por fim, passada a sensação de gelo que tomou conta do seu corpo, Francisco disse:

- Eu não te disse que estaria fadado à solidão, Amélia? E isso foi há dez anos atrás!

- Como a gente ia dar certo? Seus pais e seus irmãos gostavam de mim, você gostava. Não existia problema algum. As coisas caminhavam pra felicidade plena, isso não existe! - Amélia falava num tom calmo e conclusivo - eu me casei um ano depois que terminamos, fiquei casada por cinco anos, há cinco vivo numa pensão com outras quatro amigas.

- Eu não te entendo até hoje. Sua explicação revela mais uma das mazelas do ser humano. Será que se eu fosse agressivo, ou houvesse algum problema que pudesse nos impedir de ficar juntos, nasceria em você o desejo de viver ao meu lado? Até hoje você pensa que amar e sofrer são sinônimos! Vou-me embora. Quando ouço, novamente, esse tipo de coisa percebo que minha solidão é aconchegante. Foi uma grande surpresa te ver, não sabia que você morava em Belo Horizonte.

Francisco saiu andando atordoado, não esperou por resposta, nem mesmo pediu o fogo pra acender seu cigarro. Se esperasse poderia saber que ela só estava de passagem por Belo Horizonte, mas isso pouco importava.

Esse é mais um caso de amor imperfeito, graças à natureza humana. Amélia e Francisco nunca mais se viram. Muitos anos se passaram e quando estava doente, prestes a morrer, ele pediu às enfermeiras que pegassem uma caixinha que estava ao lado de sua cama e entregassem à Amélia. Elas nunca souberam quem foi Amélia.

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